"Professora, esse texto é muito difícil!"
Essa frase foi muitas vezes repetida ao longo desse ano. Por isso, merece uma atenção super especial. Ora, será que o texto é realmente muito difícil, ou estamos percorrendo um caminho ineficaz para a compreensão "delezinho"? A verdade é que ler não implica necessariamente interpretar.
Muitas vezes, diante de uma produção textual, cometemos um engano ao pensarmos que interpretar um texto é apenas decodificar aquilo que está escrito. Ao contrário desse pensamento de abordagem superficial de ler as linhas, interpretar um texto é percorrer um caminho que vai além dos elementos textuais visíveis.
A busca pelo entendimento “do que o texto diz” é incompleta. É necessário entender o que o texto diz, por qual motivo diz e como diz. Dessa mesma forma, também torna-se “importante informar-se a respeito das condições de produção em que se deu um texto ou reconhecer quem é o autor, e saber que, ao escrever, teve certas intenções”.
Para que possamos chegar a essas informações, é necessário reconhecer:
Os elementos pré-textuais ou fatores de contextualização¹:
São fatores periféricos ao texto em si que servem para situar o leitor. Informam data, local, assinatura, elementos gráficos, imagens, título, autor. Através dessas informações, podemos estar mais próximos de entender o que o texto representa ou representou no momento em que foi inserido e o modo como foi organizado.
O contexto:
O contexto é o momento histórico e social em que o texto foi produzido. Saber a época e o que estava acontecendo no momento de produção pode ser fundamental para interpretação de uma obra. É importante que se compartilhe esse conhecimento de mundo para que seja possível entender a intencionalidade comunicativa de determinado texto. A noção do contexto ajuda o leitor a reconhecer e entender a trajetória de ideias de um determinado autor ou época, importantes também para entender a existência do texto e da temática existente nele.
O texto:
Finalmente é preciso considerar o texto e o modo como foi organizado. Percebê-lo enquanto organização sintática (como as frases foram organizadas), manifestação semântica (sentido, significado), modo estrutural (como o texto foi apresentado). Para isso, é preciso ter o domínio da língua e reconhecer seus sentidos.
“Deve-se tentar descobrir as varias técnicas de comunicação que o sistema lingüístico coloca a serviço do enunciador de um texto que vão ou não ser reconhecidas pelo leitor”². Deve-se analisar se o texto pretende emocionar, argumentar, causar riso ou terror, informar. A que publico tem destino, que impacto possui, etc.
Ao reconhecermos esses elementos, certamente teremos mais habilidades para interpretar um texto e reconhecer a intenção de quem o produziu. A partir de uma interpretação mais segura, também estaremos mais preparados para gerar uma visão crítica e construtiva diante de uma produção.
"Ler um texto é tentar decifrá-lo, mas se considerarmos que o próprio mundo está impregnado de linguagem, a própria realidade pode ser considerada como uma grande biblioteca cheia de textos à espera de quem os decifre"
[1] KOCH, Ingedore Villaça, TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo, Contexto, 2004.
[2] PAULIUKONIS, Mª Aprecida. O texto como objeto de estudo nas aulas de português. In: VIEIRA, S.R. & BRANDÃO S.(Orgs ) Morfossintaxe e ensino de português:reflexões e propostas. R.J. Faculdade de letras, 2004:255-272
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